quinta-feira, 6 de agosto de 2009

BRASILIA CIDADE PARTIDA

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

tudo sobre mim?

As palavras são coisas tão cheias de vida, cheiram tanto á coisa humana que acabei por ceder a sua sensualidade total.
Cedi a sua sedução, cedi aos seus pedidos, cedi aos seus encantos.
As cidades e as palavras são o meu mundo.
Tenho uma grande coleção de cidades e palavras, mas sinto que sou mais uma peça da coleção idiomas e cidades.
Ambas coleções compõem pra mim o conjunto infinito da vida humana.
Eu tenho amado a vida humana.
Também tenho uma vocação internacionalizadora.
Queria ser totalmente do mundo.
Nem brasileira , nem austriaca, nem egipcia.
Isso me condói porque como brasileira sei que sou vista com suspeição.
Uma pessoa sofre ao ser vista com suspeição.
Como sofrem os negros o tempo todo pelo olhar do mundo em relação a sua negritude.
Como sofremos nós latinos.
Mas o mundo, o mundo é um grande patrimonio espiritual
E as linguas são a maior expressão da alma.
Eu entendi a pouco que a lingua pátria é estranha
como é estranho termos fome e sede sem saber porque precisamos comer e beber.
E muito do que está ao nosso redor cotidianamente não nos pertence.
As vezes nossa casa não nos pertence.
O mundo é livre de nós, nós é que nele estamos sobrepostos.
As arvores contem-nos,
Os aviões resguardam-nos e nos atravessam de lá para cá,
Dias e noites nos guardam,
Mas o mundo sempre transcende a vida humana.
O mundo está sobre as nossas cabeças e ao redor de nós.

Quanto mais viajamos mais percebemos essa imagem inalienável.
Quando habitava minha cidade na infancia
Achava que eu estava no centro do mundo e este centro a mim pertencia de todo.
Isso porque era muito pequena.
Fatalmente os anos trouxeram-me uma realidade menos morfológica
O mundo tornou-se completamente transcendente em relação aos meus rabiscos mentais.
Não me sinto triste por isso felizmente.
Me sinto, ao contrario, a experimentar formas, figurações, passagens.
Uma prazeirosa viagem de trem,
Em que o mundo pela janela se descortina à velocidade de sua geografia.
Por outro lado não quero sofrer pelo tempo que se esvai
Mas encontrar a felicidade nessas novas formas fugidias que me são oferecidas.
Viver a miopia, filosofia do impressionismo, e esquecer as formas precisas.
Escolher o essencial para mim sob a perspectiva de minhas íntimas percepções,
Explorar o meu íntimo, descer ao meu íntimo, escutá-lo.
Apaixonar-se pelas coisas como recurso à vida plena,
Saborear as manhãs, beber as manhãs.
Ceder as impressões que jorram e mergulhar no instante.
Belo alemão, belo francês, inglês, latim.
Sim, estou feliz, mais que feliz, serena.
Estou mesmo nessa viagem através de mim
pelas palavras, pelas impressões, socavando mensagens.
Estou aberta sem nós que me estanquem,
estou a brincar com as palavras e isso é como viver.
Enfim...tudo é mesmo como o átimo de luz no entardecer e todo o mais
nos transcende e não o saberemos, ignoramos e ignoraremos...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

fado-vida

Amanhã não existirei mais.Na verdade , sabia que iria sentir muito a sua falta, mas não sabia como seria dificil aproveitar a estadia sem você.Hoje felizmente a chuva e o frio deram um intervalo. Pude viver meu dia burocrático sem pingos gelidos e por isso gozar da cidadezinha.Lisboa é como uma rapariga encantadora. Não é exuberantemente linda, mas tem seus encantos...e que encantos!Verdade é que são muitos anos sonhando com sair do Brasil...quando a pessoa sai não quer mais voltar...voltar para o brasil soa a voltar para trás...Então estou em Lisboa, no quarto da frente do apartamento 01 esquerdo, numero 56 da rua da alegria. Na casa da Andrea. Não é bom estar na casa de uma estranha, como hospede. Isso não é bom. Não é nada bom estar só de morte. Não é nada bom. Onde foram parar os amigos? Onde, onde...longe, longe. Ando a refletir muito (este é um momento de reflexões) sobre a vida que ando vivendo. Sobre minhas escolhas. E tenho vontade de seguir com as linguas estrangeiras. Me especializar em tradução de alguma coisa. Sabe lá. Há tanto para se conhecer.Tenho mais vontade de viajar do que de escrever um grande obra. Perdi a crença no conhecimento. Não me irradia mais um grande horizonte.Ganhei a medida sobre a fraqueza humana que atravessa o homem de forma mais ou menos igual independentemente de tudo: inclusive de sua gradação universitária. Os homens são os homens. Momentos sublimes em meio de um sórdido destino humano.Como mulher, envelheço. E tenho diante de mim a Madonna. Não a do pintor, mas a que segue em turné mundial. Esta, que mantêm-se jovem e que representa tudo que pode o dinheiro fazer pela pele da mulher. E eu? Eu que não sou a Madonna e mesmo se tão rica fosse, me pergunto: Vale essa corrida louca contra a morte? Hoje com trinta, amanhã com 50 e depois a anciã de vida insuspeitada por toda uma juventude em flor a correr em torno da velhota sem horizonte...Esse não é um parágrafo triste. Por que se estiver certa uma senhora opulenta que fica à jacuzzi comigo nas tardes frias de Lisboa "faz a morte parte da vida". Saber viver é saber morrer, saber morrer é saber viver. Mas como viver o intervalo entre o passado e o futuro? Como Viver o episódio da vida como o milagre que é mediante a idéia de que amanhã não existirei mais?Amanhã não existirei mais. Hoje que é o meu dia tive uma ingrata surpresa sobre os planos que fiz até agora. Mas veja lá o que me falta é uma mulher de quarenta e poucos a me puxar as orelhas e dizer-me: tens aí toda a vida pela frente.Mas estou apavorada: amanhã não existirei mais.De outro lado ascena-me uma amiga. E ela mais jovial atualmente que eu do alto dos seus bem vividos quarenta e poucos diz-me que será tão ativa quanto é agora por mais quarenta! O que é a jovialidade então senão um estado de paixão pelo vir a fazer sem a idéia do fim. Sentir-se inatacável pelos anos é uma chave contra os anos.Então ao contrário de mim poderá haver uma velhota que grite pelos seus olhos sob as peles flacidas de suas pupilas: Eu Ainda Estou Viva!!!E que perante a doença e o cansaço e o frio e a música que doa aos seus ouvidos possa dizer ao mundo: eu ainda estou viva!!!Essa velhota quero eu sê-la. Essa garota que teme a morte que espreita seus dias sou eu na manhã dos meus 28 anos.Essa velhota, se eu não for ela sei onde mora. Já há vi.Vi-a entre as pessoas e percebo que a pior coisa de ser velhota e que as pessoas te matam antes de morreres de fato. Deixam de te olhar sem dó ou com o ar arrogante e soberbo da eternidade. Que é a velhota senão os males da idade?Não tem lances incríveis. Só papo de velhota, coisas de ontem que inexistem para a mocidade que é toda horizontes.Lisboa é uma cidade que canta o prejuízo que estima para o seu proprio horizonte.Que fado ? Que fado ? A roda do mundo gira e faz sofrer os homens.Amanhã não existirei mais. É um fado com certeza. Eis a letra, eis a letra.