Não sei do que gosta ou não gosta o leitor mediano - se existe o leitor mediano (suponhamos que sim) - mas o imaginemos. Sem qualquer problema posso, inclusive, tomar-me em algum ponto como uma leitora mediana. Não leio em língua que não seja a pátria, não frequento periódicos ou semanários e embora tente afirmar uma identidade de leitora sob o fato de procurar a literatura clássica, poderíamos ainda indagar qual a assiduidade desta leitura...
Enfim, considero-me em alguns pontos parte do conjunto correspondente ao leitor médio, seus anseios, suas necessidades.
O leitor médio lê instrumentalmente, é verdade. Não lê por prazer. Bem neste ponto divirjo grandemente deste, embora eu mesma o faça mais por curiosidade crônica do que por satisfação absoluta.
O leitor médio não lê as obras clássicas, lê os escritores de circunstâncias, as obras sobre as quais se faz um circo na imprensa.
Ele procura também textos de apelo emocional e não estético. O leitor médio não tem apreço pela linguagem, ele degusta em lágrimas os amores perdidos, as conquistas merecidas. E o que não dizer dos políciais? Valendo-nos de uma metáfora gastronômica é possível relacionar o leitor de policiais com o amante dos congelados. Este, abstrai das características essenciais de um bom prato para sucumbir às facilidades do pré-pronto, aquecido e temperado com qualquer química paliativa.
Não digo isso por ressentimento, o digo apenas porque quando você prova de um drama policial tudo lhe parece exagerado, picaresco e fora do ponto. Mas voltemos ao leitor ocasional dos dias de hoje.
A leitura dos semanários, das revistas de moda, plástica, alimentação, automóveis, negócios, política, arte, decoração, arquitetura e etc e etc e etc são as verdadeiras leituras da classe média brasileira e, por isso, também indicam a dieta de idéias que trafegam pelas marginais cabeças de nossos leitores de hoje. Ficamos assim, com um cenário demasiado lúgubre, porque não nos parece que o leitor médio seja lá um tipo muito interessante, mas se o for, sabemos que não o é pelo que lê, de fato não.
Bem, subtraindo os best sellers lacrimogênios, as aventuras com previsivel desenlace, as revistas de comportamento, fofoca, negócios e política o que resta?
Ah, chegamos ao epicentro da história da leitura mediana. Lê-se sobre Deus, sobre as formas de viver sem sofrimento. Lê-se a bíblia (novo e antigo testamentos), o evangelho segundo Allan Kardec, as verdades do espiritismo, o livro negro de são jacó, a pirâmide energética do Nilo, bem como Seja feia, seja feliz, pense como um rico e seja rico, Como não comer bombons nem sorvetes ou Envelheça e apareça! Bem, são todas dietas rápidas como se pode notar que não parecem satisfatórias para casos de anemia crônica, mas que conseguem despertar a sensibilidade adormecida de nosso público e por isso oferecem a renda aos editores, diamagradores, revisores, tradutores entre outros que como todos nós, precisam viver de suas rendas e que, portanto, não podem dar-se ao luxo de publicarem apenas àquilo que seja interessante ou raro ou desafiador.
Enfim, antes que nos tornemos demasiado exaustivos sobre a natureza do leitor de nossos dias, resta ainda indagar sobre quem é o leitor de blogs e seus escritores. Poderíamos dar inicio de forma apologética afirmando que seus leitores e escritores são os letrados "do amanhã" em sentido figurado, que exprimem o leitor que surge pelas novas formas de texto e divulgação dos mesmos. Sim, é verdadeiro que podemos romancear sobre a literatura de cordel, sobre o policial e sua origem na sociedade norte americana dos anos vinte, sobre o melodrama e sua importância para a sociedade burguesa, mas antes disso, é preciso dizer, que os leitores virtuais e seus autores estão sujeitos aos mesmos vícios e virtudes de seus antecessores e que, por isso, não há qualquer salvaguarda que lhes garanta algo mais do que já está aí. Seus limites podem ter outros nomes, outros perfis, mas voltam sempre ao broto e a raíz daquilo que nos limite ao mediano: a idéia de sempre lermos e escrevermos aquilo que é lido e admirado pela maioria de nós.