sexta-feira, 27 de junho de 2008

o fumante leitor

Algumas pessoas não acreditarão nas minhas razões antitabagistas.

Fumante ocasional, fumante social, fumante por solidariedade ao fumante amigo...Fui uma fumante para as horas compartilhadas até que decidi tornar-me uma amiga não fumante, absolutamente. Só eu sei o quanto isso me custa.
Custa-me, por exemplo, a simpatia dos fumantes, embora concorde com os não fumantes que preconizam a extinção do tabaco em lugares públicos. Eu não tenho qualquer coisa contra os fumantes, ao contrário.
Sou, inclusive, uma fumante imaginária.
Sempre quando leio, depois de umas páginas na qual sinto meu fôlego de leitora atingir seu ápice vem-me a mente o desejo de dar uma boa tragada e depois, num ato perfeito, expirá-la lentamente. A respiração muda do leitor que cavalga, às vezes, sem ar por linhas rápidas de um narrador moderno parece merecer este brinde: a tragada.
A tragada do fumante leitor é um verdadeiro sistema de pontuação, de corte do texto, de marcação dos climax e dos finais....

Fazer o quê?
Se se extinguirem os cigarros, morrerá também toda uma forma de estar diante do mundo, de uma conversa, de um livro.
Pulmões à salvo, fumantes reais e imaginários talvez precisem se contentar com a idéia de uma pérpétua chavena de chá ou uma boa jarra de água para acompanhá-los neste momento em que a solidão se torna menor em vista dos cigarros...

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