terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

tudo sobre mim?

As palavras são coisas tão cheias de vida, cheiram tanto á coisa humana que acabei por ceder a sua sensualidade total.
Cedi a sua sedução, cedi aos seus pedidos, cedi aos seus encantos.
As cidades e as palavras são o meu mundo.
Tenho uma grande coleção de cidades e palavras, mas sinto que sou mais uma peça da coleção idiomas e cidades.
Ambas coleções compõem pra mim o conjunto infinito da vida humana.
Eu tenho amado a vida humana.
Também tenho uma vocação internacionalizadora.
Queria ser totalmente do mundo.
Nem brasileira , nem austriaca, nem egipcia.
Isso me condói porque como brasileira sei que sou vista com suspeição.
Uma pessoa sofre ao ser vista com suspeição.
Como sofrem os negros o tempo todo pelo olhar do mundo em relação a sua negritude.
Como sofremos nós latinos.
Mas o mundo, o mundo é um grande patrimonio espiritual
E as linguas são a maior expressão da alma.
Eu entendi a pouco que a lingua pátria é estranha
como é estranho termos fome e sede sem saber porque precisamos comer e beber.
E muito do que está ao nosso redor cotidianamente não nos pertence.
As vezes nossa casa não nos pertence.
O mundo é livre de nós, nós é que nele estamos sobrepostos.
As arvores contem-nos,
Os aviões resguardam-nos e nos atravessam de lá para cá,
Dias e noites nos guardam,
Mas o mundo sempre transcende a vida humana.
O mundo está sobre as nossas cabeças e ao redor de nós.

Quanto mais viajamos mais percebemos essa imagem inalienável.
Quando habitava minha cidade na infancia
Achava que eu estava no centro do mundo e este centro a mim pertencia de todo.
Isso porque era muito pequena.
Fatalmente os anos trouxeram-me uma realidade menos morfológica
O mundo tornou-se completamente transcendente em relação aos meus rabiscos mentais.
Não me sinto triste por isso felizmente.
Me sinto, ao contrario, a experimentar formas, figurações, passagens.
Uma prazeirosa viagem de trem,
Em que o mundo pela janela se descortina à velocidade de sua geografia.
Por outro lado não quero sofrer pelo tempo que se esvai
Mas encontrar a felicidade nessas novas formas fugidias que me são oferecidas.
Viver a miopia, filosofia do impressionismo, e esquecer as formas precisas.
Escolher o essencial para mim sob a perspectiva de minhas íntimas percepções,
Explorar o meu íntimo, descer ao meu íntimo, escutá-lo.
Apaixonar-se pelas coisas como recurso à vida plena,
Saborear as manhãs, beber as manhãs.
Ceder as impressões que jorram e mergulhar no instante.
Belo alemão, belo francês, inglês, latim.
Sim, estou feliz, mais que feliz, serena.
Estou mesmo nessa viagem através de mim
pelas palavras, pelas impressões, socavando mensagens.
Estou aberta sem nós que me estanquem,
estou a brincar com as palavras e isso é como viver.
Enfim...tudo é mesmo como o átimo de luz no entardecer e todo o mais
nos transcende e não o saberemos, ignoramos e ignoraremos...