sexta-feira, 18 de julho de 2008

literatura de párar...o tempo

A narrativa tem uma propriedade interessante. Ela reinventa o tempo. A partir da narrativa se pode construir temporalidades diversas e, inclusive, temporalidades lentas ou praticamente estáticas. O primeiro capítulo da obra No caminho de Swann de Marcel Proust nos oferece a oportunidade de conhecer a criação de uma cena praticamente imóvel.
Na atualidade, a imobilidade ou produção da ausência do tempo na literatura torna-se interessante na medida em que nos permite desacelerar a relação com o tempo que é continuamente acelerada pelos meios de comunicação onde somos colocados no em uma espécie de "corrida de acontecimentos". A produção serial de acontecimentos consolida, em nós, a certeza de uma realidade tão fluida e incontrolável que, por vezes, tornamo-nos alheios à informação, vivendo uma rotina de exílio social e até "dessocialização", ou seja, passamos a viver reclusos na atmosfera de nossos dramas diários. tal sintoma da vida ultra-acelerada já fora objeto de reflexão dos principais críticos da modernida. Entre eles, os sensíveis Walter Benjamin e a filósofa Hannah Arendt. Em ambos, a crítica da modernidade se torna uma crítica da história com "H" maiúscula e de sua forma narrativa. Os limites entre crítica política e estética (como reformadora da ética) se tornam exíguos e é possível falarmos até mesmo de uma reflexão epistemológica da historiografia ocidental do século XIX e XX.
Um aspecto interessante das relações entre literatura e história (ambas são indubitavelmente formas narrativas) diz respeito justamente ao fato de terem sido discriminadas em campos totalamente distintos da relação com o mundo. A literatura como ficção era uma representação desconectada da realidade e a história algo que só dizia respeito ao chamado "mundo real".
A linguagem publicitária e a sofisticação da mass média, contudo, embaralhou a distinção entre verdade e propaganda, entre a forma da mensagem e o caráter de seu conteúdo. É bastante geral o modo como, hoje, somos lançados a uma sequência de matérias jornalísticas aliadas de conteúdo propagandístico. Tal simbiose permitiu que problematisássemos as matizes entre o relato de ficção e o da realidade a ponto de percebermos os elos inevitáveis sobre os quais se conectam o mundo real e o mundo imaginado. Por todas estas questões não se trata de uma "bandeira ideológica" pensar as relações entre representação e história, ou literatura e história. De modo geral, é preciso pensar as situações, vê-las na sua permanente dinâmica e o mundo em que vivemos é rico em movimento e na forma como representa e destaca aquilo que nomeia como "fatos".
A literatura proustiana, na contramão do movimento, torna-se subversiva em sua forma narrativa e até mesmo crítica em relação aos valores da burguesia que tão bem apresenta.
É daqueles livros que se tornam importantes por estar calcado em uma premissa estética que reflete a forma pessoal como seu autor refletiu o mundo enquanto representação. Por isso também deva valer a pena ler Proust, mas isso apenas para quem julgue questões como estas relevantes. Outra possibilidade é vermos nele outras questões, mas daí, bem, será realmente necessário ler Proust para antevê-las. Um livro sempre permite que abramos nossos olhos para coisas imateriais e não evidentes.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

idades

ficar velho fascina e incomoda.
Por vezes fascina,
por outras entristece...

envelhecer é sofrer a vida,

Na juventude nossa própria existência é um riso sobre o tempo
Na maturidade é o contrário, o tempo ri-se de nós.

Porém é neste momento que se tornam claras a importância da arte, da literatura e até mesmo da culinária

Quero gritar a frase de Mark Bauerlein: "não confio em ninguem com menos de trinta anos"

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Meninas escritoras

Curiosamente a menina escritora que passou do fanzine para o fanzine online e deste último para o blog não quer que sua escrita seja estigmatizada como "literatura de blog". Ela afirma em diversas aparições públicas que a forma importa menos que o conteúdo.
Considero que ela receie que possa ser reduzida à literatura produzida pelas facilidades do teclado, da publicação instantânea.
Ela não entende nada, nada mesmo sobre debates literários e como responder a eles. Mas isso não importa para ela e tão pouco importa de modo geral. Curiosamente, a menina escritora muito lida pelos seus textos virtuais que chegavam quentes e fáceis a um público jovem que queria ler uma literatura mais agressiva (ou ao menos tão agressiva quanto julgavam ser a própria vida), tem mais a dizer sobre a literatura em geral do que sobre si mesma. Por isso interessa. Interessa porque a partir da literatura aqui publicada, lida ou não lida e até apagada (deletada) todo o sentido da organização já colocada em questão como as noções de "autor-obra", são reafirmadas. Embora não considere que a expressão neo-barroca, por exemplo, torne-se útil, pois ela é um engano óbvio, mesmo que tenha o seu charme, é preciso pensarmos nas transformações porque passará toda escrita diante de tantas mudanças editoriais entre outras. Isso de estarmos vivendo em um grande turbilhão sobre o qual temos que pensar e agir pode ser muito importante para o prazer da leitura, para redimensionarmos nossa própria cultura, para estarmos nela sem acusa-la de depravação e erro apenas, mas também para usufruí-la no que poderá ter de benéfico, mas sobretudo, de belo.

títulos

- estive a pensar,
- uhn?
- foi presunção minha dizer "títulos incríveis" naquele título.
- é, pode ser. é uma forma apenas de dizer que te agradam, é uma hipérbole, enfim, temos este hábito com as palavras.
- mas o efeito saiu totalmente diferente, saiu pretensioso.
- pode ser, este é o maior problema do uso das palavras,
- escritas?
- pois é, com a palavra escrita o sentido dado na oralidade pode se transformar
- em algo ruim
- é verdade, com bem mais facilidade.
- escrever é muito, muito diferente de conversar.
- sempre achei isso, quero dizer, percebi isso ali escrevendo.
- é outra coisa!
- trata-se de outra coisa mesmo.
- algumas pessoas, enfim, trabalham em levar a oralidade para o texto escrito, em oferecer ao texto escrito o frescor da oralidade.
- Como a clarah averbuck?
- é, como a clarah e como o Saramago também.
- é essa é boa. Clarah e Saramago.
- Diferentes, mas parecidos.
- Muito diferentes! o velho saramago brinca mais, é mais versátil, a literatura da clarah é uma regurgitação...
- bom, é verdade. É verdade mesmo.
- Ele é muito mais autonomo em relação ao uso da linguagem.
- taí, não discordo não.
- são coisas diferentes.
- é, bem diferentes, bem diferentes mesmo.

terça-feira, 15 de julho de 2008

helênicas

na próxima vida quero ser amada como as mulheres que imagino
quero ser soberba como quem nasce predestinada
quero cumprir algo irreal, viver o sonho sonhado por milhares

na próxima vida serei bela como as manhãs
serei divina
serei tão humana

na proxima manhã farei de tudo para ser feliz
assim como nasci
me endireitar no que posso
e me cultivar com os recursos naturais que tenho

Uma coisa não impede a outra: sonhar o impossível, viver o que se pode;
e não impede porque o tempo é o mesmo para todos os homens que
vivem, tornam-se divinos e
morrem e são esquecidos.

sem título

nos madrigais serenos que deslizo sem eira
escrevo o tempo noturno que passa suave

encanto-me nele que atravessa sem pressa
como pode um tempo assim sem alarde?

não escrevo mais lento que o seu passo
não o afugento no ritmo do teclado

nos encontramos fortuitos;
Ele é a noite que eu sonho e eu o seu dia acordado

A noite silencia os homens e cala o seu relógio,
Sábia noite que nos permite sentir a eternidade.

Uma informação a menos

imaginemos o dia com uma informação a menos.
delírio.

Parece que o tempo é curto.
Mas esses dias mesmo ouvia falarem
do tempo da leitura:
"é outro, não o do relógio" "lê-se pouco, passam-se horas..." e por aí seguiam os comentadores.

Tranquilizei-me. Era daquele modo realmente, mas não havia sistematizado.
Bem, aos caros leitores, insígnes, respeitados e respeitosos, etc, etc entre outros, vai minha singela satisfação: a de descobrir que o tempo era mesmo outro. e não apenas para esta pequena coisinha aqui, mas o era, o era, o era.

Sobre a literatura enfim. Sim, sigo com Swann de Proust. Sem pressa. Entre dez e vinte páginas por dia. Me bastam. Enfim, seria como beber de vez toda uma garrafa de Porto. Não faço isso assim, seria indigesto, ao menos do ponto de vista literário seria como uma indigestão.
É de se pensar sobre isto: analogias.
Tenho percebido que as analogias entre a estética e os hábitos alimentares são sempre bastante elucidativas. A reação de meus interlocutores e toda a reciprocidade parece sugerir que somos mais civilizados do ponto de vista dos hábitos à mesa. Quanto ao resto, nos perdoem. Ou não. Creio que incivilidades não sejam, de fato, desculpáveis. Eu ao menos ando farta.
Viram?
Casualmente aí está (ou não) a idéia da satisfação à mesa outra vez a nos perseguir.

Vejamos...a literatura. Era ela a princípio e nos perdemos a falar em comida, em cultura, em estética. Em verdade tenho falado de comida para falar em estética e tenho falado em estética para falar em literatura e sendo assim nunca falo dela.
- Do quê?
- Ora, sei lá...

sexta-feira, 4 de julho de 2008

títulos incríveis

tenho que escrever uma lista deles,
não me valerão um texto,
mas com ela prendo-os a mim.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A idade de amar a mãe é mais tarde

Ainda não tive a oportunidade de lhe dedicar uma música,
De tatuar seu nome, de te levar para o Egito;
Mas como quero prestar minhas homenagens, escutar tuas histórias, dormir no teu colo.

Quando menina, queria o mundo a fora, sair do teu pé, construir meu nome
Gritava, esperneava, batia as portas da casa;
Era "cheia de vontades", senhora de mim
Não via que todo a minha "bravura" era suportada pela tua força, pelo teu jeito de me amar.

Então agora só quero olhar teu olharzinho, ouvir tua voz e sorrir contigo o riso de mãe e filha,
Espero ainda tatuar teu nome, te levar ao Egito e dormir no teu colo ouvindo histórias até o dia
em que formos duas velhinhas e a vida toda pareça um fio fino como a chuva que cai molhando sem pesar.

domingo, 29 de junho de 2008

Eu Dedico Aos Amigos

Aos amigos aquela vontade
de partilhar;
De rever o método,
Aos amigos a doce bobagem,
Coração para os amigos livre de modos,
Queria dedicar aos amigos um sonho fresco,
Uma lembrança da tenra infância,

É pelos amigos que corro, é com eles que movo
dia-a-dia esta engrenagem,
É por eles que rezo, que peço melhoras,
É pelos amigos que sinto mais viva a rotina prosseguida.

Amigos longe, amigos perto que nunca vejo;
Ora, amigos são amigos, são a cumplicidade eternizada de um momento.

Dedico aos amigos meus momentos de silêncio, quando esqueço deles e fico sozinha assim,

Saudades tenho, como tenho do leite do peito e do berço,
Saudades das tardes risonhas e preguiçosas em que nos moviamos vadios pelas ruas da cidade;
Mas sei que nas tardes vindouras novas rotinas dispensam
a noite das coisas que foram;
Por isso amigo, naquele bar que é novo para ti
Quero beber contigo a nova bebida e te ouvir outro perante a vida.

sábado, 28 de junho de 2008

o leitor mediano

Não sei do que gosta ou não gosta o leitor mediano - se existe o leitor mediano (suponhamos que sim) - mas o imaginemos. Sem qualquer problema posso, inclusive, tomar-me em algum ponto como uma leitora mediana. Não leio em língua que não seja a pátria, não frequento periódicos ou semanários e embora tente afirmar uma identidade de leitora sob o fato de procurar a literatura clássica, poderíamos ainda indagar qual a assiduidade desta leitura...
Enfim, considero-me em alguns pontos parte do conjunto correspondente ao leitor médio, seus anseios, suas necessidades.
O leitor médio lê instrumentalmente, é verdade. Não lê por prazer. Bem neste ponto divirjo grandemente deste, embora eu mesma o faça mais por curiosidade crônica do que por satisfação absoluta.
O leitor médio não lê as obras clássicas, lê os escritores de circunstâncias, as obras sobre as quais se faz um circo na imprensa.
Ele procura também textos de apelo emocional e não estético. O leitor médio não tem apreço pela linguagem, ele degusta em lágrimas os amores perdidos, as conquistas merecidas. E o que não dizer dos políciais? Valendo-nos de uma metáfora gastronômica é possível relacionar o leitor de policiais com o amante dos congelados. Este, abstrai das características essenciais de um bom prato para sucumbir às facilidades do pré-pronto, aquecido e temperado com qualquer química paliativa.
Não digo isso por ressentimento, o digo apenas porque quando você prova de um drama policial tudo lhe parece exagerado, picaresco e fora do ponto. Mas voltemos ao leitor ocasional dos dias de hoje.
A leitura dos semanários, das revistas de moda, plástica, alimentação, automóveis, negócios, política, arte, decoração, arquitetura e etc e etc e etc são as verdadeiras leituras da classe média brasileira e, por isso, também indicam a dieta de idéias que trafegam pelas marginais cabeças de nossos leitores de hoje. Ficamos assim, com um cenário demasiado lúgubre, porque não nos parece que o leitor médio seja lá um tipo muito interessante, mas se o for, sabemos que não o é pelo que lê, de fato não.
Bem, subtraindo os best sellers lacrimogênios, as aventuras com previsivel desenlace, as revistas de comportamento, fofoca, negócios e política o que resta?
Ah, chegamos ao epicentro da história da leitura mediana. Lê-se sobre Deus, sobre as formas de viver sem sofrimento. Lê-se a bíblia (novo e antigo testamentos), o evangelho segundo Allan Kardec, as verdades do espiritismo, o livro negro de são jacó, a pirâmide energética do Nilo, bem como Seja feia, seja feliz, pense como um rico e seja rico, Como não comer bombons nem sorvetes ou Envelheça e apareça! Bem, são todas dietas rápidas como se pode notar que não parecem satisfatórias para casos de anemia crônica, mas que conseguem despertar a sensibilidade adormecida de nosso público e por isso oferecem a renda aos editores, diamagradores, revisores, tradutores entre outros que como todos nós, precisam viver de suas rendas e que, portanto, não podem dar-se ao luxo de publicarem apenas àquilo que seja interessante ou raro ou desafiador.
Enfim, antes que nos tornemos demasiado exaustivos sobre a natureza do leitor de nossos dias, resta ainda indagar sobre quem é o leitor de blogs e seus escritores. Poderíamos dar inicio de forma apologética afirmando que seus leitores e escritores são os letrados "do amanhã" em sentido figurado, que exprimem o leitor que surge pelas novas formas de texto e divulgação dos mesmos. Sim, é verdadeiro que podemos romancear sobre a literatura de cordel, sobre o policial e sua origem na sociedade norte americana dos anos vinte, sobre o melodrama e sua importância para a sociedade burguesa, mas antes disso, é preciso dizer, que os leitores virtuais e seus autores estão sujeitos aos mesmos vícios e virtudes de seus antecessores e que, por isso, não há qualquer salvaguarda que lhes garanta algo mais do que já está aí. Seus limites podem ter outros nomes, outros perfis, mas voltam sempre ao broto e a raíz daquilo que nos limite ao mediano: a idéia de sempre lermos e escrevermos aquilo que é lido e admirado pela maioria de nós.
Um dia desses ei de me pegar escrevendo sobre porquê os homens que se cultivam são avessos aqueles imperativos categóricos que os reduzem à nações, escolas de samba, times desportivos e outros.

estrangeiro

Nascida sem nacionalidade, sem sobrenome, sem nada. Nascida menina no mundo que nada tinha de seu. Que somos ao nascer? Uma porciúncula de vida, mais nada. Vingamos devido aos cuidados alheios e a esses chamamos carinho. É devido a esse carinho primordial que vingamos, que nos perpetuamos nesse planeta e, inclusive, construímos civilizações, fronteiras e nacionalidades.
É fato, normalmente quando nascemos logo já recebemos um cadastro civil, tarefa que cabe àqueles maiores que nos geraram a quem, futuramente teremos gratidão pelo que somos e pelo que pudemos também nos tornar. Estes vínculos todos consolidam em nós a familiaridade com as coisas, com o humor das pessoas de nosso bairro, com as leis do nosso país. Assim é e por isso, torcemos na copa do mundo pelo Brasil se nascidos no Brasil formos e cumprimos nossos deveres legais ou se, testemunhamos alguém sofrer qualquer constrangimento da lei deixemos que a mesma siga apoquentando o indivíduo, pois a lei do país e a lei do país e a sua política é como se fosse o seu juízo das coisas.
Contudo, há casos em que o pequeno cresce sem se sentir parte daqueles ritos, daqueles mitos que inculcam no sujeito a forma de ele ser. O sujeito que vive atordoado com o sentimento da inadequação sabe sobre o que escrevo. Talvez ele reconheça na narração os sintomas dessa desavença entre o nascimento e a origem. Duas coisas que deveriam estar ligadas pela mão de Deus, mas que parecem provar que, se Deus há, ele não está implicado nesta operação.
Ermínio, sujeito caucasiano embora descendente de todos os grupos migratórios e naturais do Brasil é um desses que sabe bem o que é ser estrangeiro em terra de que é natural.
Não há um dia para ele em que não lastime sua solidão perante os jogos estaduais e federais, seu exílio em meio ao foguetório das festas juninas e carnavais, e mais ainda seu desconsolo perante o sorriso pacífico dos seus concidadãos em meio às embromações do dia-a-dia. Desde as leis até os ritos populares de escárnio sobre as mesmas lhe são estranhos. É importante sublinharmos: Ermínio não é um cínico, um indiferente, um alheio, um parvo a quem nada nunca diz respeito porque não foi educado para saber que faz parte do mundo. Pelo contrário. Desde cedo, procurou estar a par. Foi líder de turma no ensino básico, vinculado a partidos políticos no Superior, frequentou grupos folclóricos, dançou o boi-bumbá e comeu o acarajé. Enfim, também exercia o pleito. Indignava-se perante o horário político obrigatório e sabia, mesmo sem se interessar, qual o drama da telenovela de maior audiência. Enfim, com tudo isso, ainda assim Ermínio não era parte, não se sentia parte daquela multidão atada espiritualmente por laços línguisticos e constitucionais.
Inconformado, mas indulgente, sabendo que não poderia reivindicar qualquer outra origem (como fazem aqueles cuja sorte na vida lhes poupou a grande tristeza de estarem presos a uma única nacionalidade neste mundo) Ermínio deixou de matutar sobre as fraudes e as paixões nacionais refugiamdo-se na indiferença perante tantos fatos que ignorava, tantas comoções públicas que o aborreciam e tristezas pessoas que guardava diante da ineficácia dos serviços públicos. Era um desertor em terra pátria, um desterrado no exercício da cidadania e ninguém sabia que ele, apesar do exercício pleno de seus deveres de brasileiro, nunca fora nem compartilhara daquela identidade estrangeira.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

tricotilomania


Definitivamente, tricotilomania não é mania de fazer tricô. Antes fosse, assim as mãos desassossegadas teriam por fim novelos e não cabelos, e teceriam lãs e não carecas...


Mas se a doença tudo enfeia; até a prosa de quem dela se ocupa procuremos fugir dela

lembrando que as belas madeixas inspiram aos poetas o sentido das perucas...


escrever para um blog pode ser como jogar uma partida de
xadrez sozinho...

ATENÇÃO:

é permitido fumar durante a leitura deste blog.

o fumante leitor

Algumas pessoas não acreditarão nas minhas razões antitabagistas.

Fumante ocasional, fumante social, fumante por solidariedade ao fumante amigo...Fui uma fumante para as horas compartilhadas até que decidi tornar-me uma amiga não fumante, absolutamente. Só eu sei o quanto isso me custa.
Custa-me, por exemplo, a simpatia dos fumantes, embora concorde com os não fumantes que preconizam a extinção do tabaco em lugares públicos. Eu não tenho qualquer coisa contra os fumantes, ao contrário.
Sou, inclusive, uma fumante imaginária.
Sempre quando leio, depois de umas páginas na qual sinto meu fôlego de leitora atingir seu ápice vem-me a mente o desejo de dar uma boa tragada e depois, num ato perfeito, expirá-la lentamente. A respiração muda do leitor que cavalga, às vezes, sem ar por linhas rápidas de um narrador moderno parece merecer este brinde: a tragada.
A tragada do fumante leitor é um verdadeiro sistema de pontuação, de corte do texto, de marcação dos climax e dos finais....

Fazer o quê?
Se se extinguirem os cigarros, morrerá também toda uma forma de estar diante do mundo, de uma conversa, de um livro.
Pulmões à salvo, fumantes reais e imaginários talvez precisem se contentar com a idéia de uma pérpétua chavena de chá ou uma boa jarra de água para acompanhá-los neste momento em que a solidão se torna menor em vista dos cigarros...

terça-feira, 24 de junho de 2008

DEPOIS DAS ARTES PLÁSTICAS
VIRÃO AS ARTES
BIO-DEGRADÁVEIS?

MAIS AWESOME ADS!






AWESOME ADS É MANIA!!!!








OS BLOGS NÃO VICIAM EM ESCREVER ,
MAS EM PUBLICAR).

segunda-feira, 23 de junho de 2008

MEMORABILIA

MEMORABILIA
Termo latino que significa literalmente “coisas que servem para serem lembradas” e que entra na literatura a partir do momento em que se torna necessário recordar, recolher ou editar obras de autores antigos, cuja produção literária se recupera por via da memória. De aplicação variada, podemos dizer que tudo o que teve um significado importante para um sujeito pode ser recuperado numa memorabilia, ou recolha de memórias, experiências pessoais, obras realizadas, conhecimentos adquiridos, etc. que de alguma forma nos marcaram. Sobre Sócrates escreveu Xenofonte uma Memorabilia (Loeb Classical Library, Oxford,1991), cujo título significa literalmente “o que se mantém na memória”. A versão latina consagrou o título Memorabilia Socratis dicta, ou seja Ditos memoráveis de Sócrates, que regista mais aspectos de natureza mundana da vida de Sócrates do que especulações sobre a sua filosofia.
O género literário que corresponde a toda a literatura de memórias, isto é, a todas as formas de recuperação imaginária do passado, tem o nome de memorialismo, que pode incluir obras tão diversas como Os Últimos Dias de Alexandre Herculano (1880), de Bulhão Pato, Mémoires d'une jeune fille rangée (1958), de Simone de Beauvoir, Memórias de Viagem: Um olhar europeu sobre o Portugal do século XVIII: A European View of the 18th Century Portugal —Travel Memoirs [Festival dos Oceanos 2000], textos Nuno Saldanha, João Paulo Ascenso Pereira da Silva, Isabel da Cruz Lousada, ou romances históricos como Mémoires d’Hadrien (1951), de Marguerite Yourcenar, Mémoires d'Agrippine (1992), de Pierre Grimal, ou Memórias de Agripina (1993), na versão de Seomara da Veiga Ferreira. O recolher de dados da memória para serem transformados em literatura tanto pode ser conseguido com um espírito historiográfico, mergulhando através de dados registados no passado, e agindo como um instrumento de alteração e recriação imaginária ou factual desse passado, para além da sua simples reconstrução e preservação, como pode produzir a modificação do passado, como forma de crítica a factos ou comportamentos que se julgam merecedores de uma revisão judicativa.
autobiografia; IDENTIDADE; literatura confessional; MEMÓRIA
Bib.: Marjorie Bard: “Of Memories, Memorabilia, and Personal Narratives: Life Events in Introspect and Retrospect”, Folklore and Mythology Studies, 10 (1986)

Carlos Ceia

estado de espirito

é verdade, chove.
Mas quando se trabalha em casa e sentado
A luz do céu é sempre nosso estado de espírito...
"QUANDO EU CRESCER
QUERO VIRAR TRADUTOR
PARA ENTRAR NA MÁQUINA
DE PALAVRAS DOS ESCRITORES!"

Má qui nas

Tenho pensado sobre as máquinas:

a máquina das palavras no caso do professor,

Da expressão no ator;

Do movimento no bailarino e

Do ritmo no músico...


Quando estragam como se conserta? Quando produzem, do que deduzem?

máquinas, máquinas, máquinas: não são metálicas, nem à vapor.
Mas deixam um homem vestido como um operário!!

- Um operário que não está alheio aos meios de produção, disse o cientista.
- Sim, um operário que é seu meio de produção!

-Que artesanato! Pareceu espantado um industrial.

máquina, máquina, máquina: desprezamos como funciona, mas parece eficiente, pelo menos
àquele que a emprega!!!!!

os tex tos

Sim, Era uma vez.
Era uma vez os textos.
Os textos se acumulam pela casa e, na casa, sob os móveis, prateleiras, até na cama e vão se indo.
São os textos essas palavras ou os papéis ou o que são?
Fico atenta : estão os textos entre o chão e a minha mão.

Me divertem, me distraem, me adormecem e os esqueço
Sempre lembro quando acordo e as folhas caem por onde tropeço
Mas, textos-textos "Amigo", logo lhes digo,
É caso de pôr-me a lê-los e perder neles o tempo rendido.

Só me vingo quando escrevo, quando deixo para trás
As manhãs que tive os textos como lanches matinais

Só me vingo quando esqueço e minto que não os conheço:
"Nunca Lí", "Nunca Ouvi"!

Acho que não os mereço...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

post

Estava um silêncio mofino, mas um silêncio é igual a ausência do tempo.
Porque depois daquele instante não havia nada embora se sentissem bem.
Você não tem medo de que sua perna possa cair? Ela perguntou porque já há dias se enervara com aquele despreendimento masculino diante da barba, dos dentes, das unhas, da perna, da cara. Olha, você segue falando, falando, falando. Os cabelos da moçinha eram tão humanos que ele deslisou todo para encostar naquela prova da realidade. Se a senhorita está preocupada pode me ajudar aqui. Apontou para os cortes profundos que desciam do tronco até os membros. São como olhos? Não, são como memórias. Eles sentaram sobre as pedras do lugar enquanto esperavam alguém. Se estivermos longe, levaremos dias, ele disse. Dias? Se se acabou o tempo Peixinho, talvez não hajam mais dias, mas agoras e agoras e agoras. Foi fatal. Ele se ergueu de um abismo interno para pensar não sobre agoras, ou feridas ou memórias, mas para se sentir bem. Olhou melhor aquela senhorita estendida. Nos resta o quê? Esperar, lindinha. E cada palavra era silêncio e cada olhar, nada e todo dia, o mesmo.

fissurinhas

Algumas pequenas fissurinhas entre a boca e os olhos. São invisíveis para você, mas estão ali. Tocou-as com a ponta dos dedos. A mão gigante não sentira nada.

Ele percebeu que ela ria. Se você rí não posso continuar. Desculpas, veja: já estou séria.

Agora toque novamente. Então ele desenhou sua face com o indicador para cortá-la sem que ela percebesse e avançava mansamente sua mão pela pele sem dizer nada. A respiração tranquila e silenciosa tornava irreal a proximidade de ambos.Você é uma raptora do tempo Pietra. Ela sorriu daquela declaração discreta. Você é o Tempo, Peixinho, eu te amo. Ao mesmo tempo, ele deixou que a lâmina cortasse com precisão aquela brancura toda do pescoço. Não sinto nada, ela disse. Eu sou o Tempo, branquinha.