sábado, 28 de junho de 2008

o leitor mediano

Não sei do que gosta ou não gosta o leitor mediano - se existe o leitor mediano (suponhamos que sim) - mas o imaginemos. Sem qualquer problema posso, inclusive, tomar-me em algum ponto como uma leitora mediana. Não leio em língua que não seja a pátria, não frequento periódicos ou semanários e embora tente afirmar uma identidade de leitora sob o fato de procurar a literatura clássica, poderíamos ainda indagar qual a assiduidade desta leitura...
Enfim, considero-me em alguns pontos parte do conjunto correspondente ao leitor médio, seus anseios, suas necessidades.
O leitor médio lê instrumentalmente, é verdade. Não lê por prazer. Bem neste ponto divirjo grandemente deste, embora eu mesma o faça mais por curiosidade crônica do que por satisfação absoluta.
O leitor médio não lê as obras clássicas, lê os escritores de circunstâncias, as obras sobre as quais se faz um circo na imprensa.
Ele procura também textos de apelo emocional e não estético. O leitor médio não tem apreço pela linguagem, ele degusta em lágrimas os amores perdidos, as conquistas merecidas. E o que não dizer dos políciais? Valendo-nos de uma metáfora gastronômica é possível relacionar o leitor de policiais com o amante dos congelados. Este, abstrai das características essenciais de um bom prato para sucumbir às facilidades do pré-pronto, aquecido e temperado com qualquer química paliativa.
Não digo isso por ressentimento, o digo apenas porque quando você prova de um drama policial tudo lhe parece exagerado, picaresco e fora do ponto. Mas voltemos ao leitor ocasional dos dias de hoje.
A leitura dos semanários, das revistas de moda, plástica, alimentação, automóveis, negócios, política, arte, decoração, arquitetura e etc e etc e etc são as verdadeiras leituras da classe média brasileira e, por isso, também indicam a dieta de idéias que trafegam pelas marginais cabeças de nossos leitores de hoje. Ficamos assim, com um cenário demasiado lúgubre, porque não nos parece que o leitor médio seja lá um tipo muito interessante, mas se o for, sabemos que não o é pelo que lê, de fato não.
Bem, subtraindo os best sellers lacrimogênios, as aventuras com previsivel desenlace, as revistas de comportamento, fofoca, negócios e política o que resta?
Ah, chegamos ao epicentro da história da leitura mediana. Lê-se sobre Deus, sobre as formas de viver sem sofrimento. Lê-se a bíblia (novo e antigo testamentos), o evangelho segundo Allan Kardec, as verdades do espiritismo, o livro negro de são jacó, a pirâmide energética do Nilo, bem como Seja feia, seja feliz, pense como um rico e seja rico, Como não comer bombons nem sorvetes ou Envelheça e apareça! Bem, são todas dietas rápidas como se pode notar que não parecem satisfatórias para casos de anemia crônica, mas que conseguem despertar a sensibilidade adormecida de nosso público e por isso oferecem a renda aos editores, diamagradores, revisores, tradutores entre outros que como todos nós, precisam viver de suas rendas e que, portanto, não podem dar-se ao luxo de publicarem apenas àquilo que seja interessante ou raro ou desafiador.
Enfim, antes que nos tornemos demasiado exaustivos sobre a natureza do leitor de nossos dias, resta ainda indagar sobre quem é o leitor de blogs e seus escritores. Poderíamos dar inicio de forma apologética afirmando que seus leitores e escritores são os letrados "do amanhã" em sentido figurado, que exprimem o leitor que surge pelas novas formas de texto e divulgação dos mesmos. Sim, é verdadeiro que podemos romancear sobre a literatura de cordel, sobre o policial e sua origem na sociedade norte americana dos anos vinte, sobre o melodrama e sua importância para a sociedade burguesa, mas antes disso, é preciso dizer, que os leitores virtuais e seus autores estão sujeitos aos mesmos vícios e virtudes de seus antecessores e que, por isso, não há qualquer salvaguarda que lhes garanta algo mais do que já está aí. Seus limites podem ter outros nomes, outros perfis, mas voltam sempre ao broto e a raíz daquilo que nos limite ao mediano: a idéia de sempre lermos e escrevermos aquilo que é lido e admirado pela maioria de nós.

3 comentários:

Rafa Diehl disse...

Talvez pelo fato de o leitor de nossos textos ser sempre inapreensível ele se encontra nos limites que uma língua e uma expressão midiática que a suporta oferecem como morada possível. Claro que isso será a maioria medíocre (no sentido de mediana), ou pelo menos, aquilo que a novela das oito exibe como passível de ser assistido por seus telespectadores.Podemos imaginar que se nossa educação não nos preparasse para aceitar os meios de comunicação como privilégios de poucos que sabem a verdade sobre o mundo e a gramática, talvez um texto não redundante fosse mais digerível para espectadores da novela das oito.

Miss. Olimpia O. Halley disse...

sim!!!!!!!!!!!!!!!!
Rafa, não precisa também falar do que já escreví, podes falar o que quiseres!!!! Saudades!

Miss. Olimpia O. Halley disse...

manda beijo pro digão!